Em off

Um espaço que agora se ocupa em dar destino à vida de um personagem.

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

domingo, agosto 21, 2005

Passemos ao passado

Surpreendo-me a refletir sobre o passado. Não que tal ação - pensar sobre o que já aconteceu com a minha pessoa e com outras na infinita cadeia de acontecimentos e fios invisíveis que nos cercam todos os dias - não seja por demais comum no ser Humano e que, somente pelo fato de eu estar pensando nesse assunto ele se torne algo especial.

É que, no dia de hoje, li o livro de Roland Barthes "A Câmara Clara". Neste pequeno livro, o intelectual francês traça um panorama da fotografia tão trágico e triste que me causou um certo espanto. Diz ele que toda e qualquer fotografia, por mais viva e alegre que pareça, traz em si a idéia da Morte, uma vez que uma foto sempre diz respeito a um acontecimento já ocorrido (que naturalmente não mais poderá se repetir) e que, com passar dos anos, tudo o que ali é impresso pela luz não exitirá mais. Também Barthes nos conta no desfecho de sua obra - usando de um discurso terrificado que mais parece-me que o autor inclina-se no ouvido do leitor para relatar sua descoberta aterrorizante - que toda fotografia é uma loucura sem fim. Loucura por quê consegue apreender a realidade e atar as pessoas, os valores, os sentimentos e o que eles representam ao eterno passado, de modo que nenhum deles pode retomar novamente a sua idéia ou perspectiva de futuro.

Isso deixou-me inquieto pois não havia pensado a vida por essa perspectiva. Começo a cogitar se talvez essa prisão do passado não se restrinja somente a fotografia; e se também todas as decisões que tomamos na vida nos atassem, aos poucos, dia após dia, a fios invisíveis que, aos poucos nos remetem ao nosso passado e que terminarão, de uma forma ou de outra, a nos prender irremediavelmente ao que já se passou? Pois um dia, todos não seremos também parte de um passado remoto, ecos de uma época que não existe mais?

Não sei até que ponto esta idéia é válida e tenho certeza de que a retomarei mais a frente para estudá-la de forma melhor. Talvez a leitura de Boudelaire e sua busca pelo tempo perdido me dêem algumas orientações a mais nesse sentido. Mas por hora, me sinto muito inquieto com isso. Ainda mais porque penso que Barthes encontrou algo nesse sentido quando terminou seu livro, na Paris do fim dos anos 70.

É quase uma ironia que ele tenha logo em seguida passado para o passado; morreu menos de um ano depois, vítima de um atropelamento.