Em off

Um espaço que agora se ocupa em dar destino à vida de um personagem.

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

quinta-feira, abril 13, 2006

Ele por ele mesmo

Um dia, Roberto descobriu ser um homem ridículo. Não que nunca tivesse notado isso, mas pelo menos disfarçava, fingia não ser com ele. Porém, finalmente, depois de refletir, Roberto descobriu-se homem ridículo.

Em verdade, não pensou muito. No fundo, era ridículo por definição própria.

Decidiu virar escritor de madrugada; mais um daqueles diabos que passam noites e noites batucando as letrinhas de uma máquina de escrever velha, achando-se muito diferente e superior do resto do povo que dorme àquela hora.

Obviamente, esquecia (ou talvez mentia pra si mesmo tentando não lembrar) que os dormentes eram muito mais dignos e superiores que ele. Pois o resto do mundo dormia, e se dormia, sonhava. E sonhar é justamente o que lhe era proibido, era a quimera da sua mediocridade. Ele pensava, refletia, escrevia, editava e corrigia. Os outros dormiam, sonhavam, sorriam e quiçá se alegravam em seus sonos.

Roberto descobriu-se, um dia, um homem ridículo, desses que andam de cabeça baixa sem motivo, falam palavras sem nexo e andam de jeito esquisito. Talvez tenha sido sempre assim, talvez esse seja seu eterno rosto transitivo.

Todas as noites, antes de sentar-se para escrever em sua velha máquina de escrever, pergunta-se se sua vida deixará um dia de ser assim. Mas ele simplesmente não sabe responder. É demasiado ridículo para pensar demais sobre esse assunto.